quinta-feira, 3 de maio de 2012

Risco de BSE e evolução da epidemiologia na Europa

Estudos de 2008 provaram que as FCO são das principais responsáveis para a transmissão da doença. Assim, a UE proibiu a alimentação de ruminantes com FCO (sendo esta lei implementada inicialmente em Inglaterra), tendo sido depois abrangido a todos os animais domésticos. Também foram tomadas medidas para eliminar de vez os MRE, quer relativos à FCO, quer a carcaças de animais suspeitos de serem portadores da doença. (22)

Nestas condições, foi feito um estudo (22), de modo a avaliar a tendência da epidemia de BSE em vários países europeus usando dois métodos padronizados: análise em Coorte-Histórica por períodos de idade (APC) e cálculo do Rácio de Reprodução (R0), com dados entre 2001 e 2007.

No estudo epidemiológico referente à BSE na Europa, foram analisados os casos de 7 países europeus no que respeita à eficiência dos métodos de controlo e à evolução da epidemia a partir de dados como o ODS-Ratio. Foram excluídos os animais com menos de 2 anos de idade e os importados de países estrangeiros. Os casos atípicos de BSE foram incluídos, apesar da sua distribuição epidemiológica ser diferente da BSE normal. A informação sobre estes dados foi dividida em três categorias: ano de nascimento, ano de diagnóstico e resultado do teste (negativo/positivo). O principal objectivo foi analisar a evolução da epidemiologia tendo em conta as medidas de controlo.

É de salientar a importância da distribuição etária neste estudo, pois o risco de desenvolver a doença está associado à idade no momento da infecção. (3)



  • Análise em Coorte-Histórica por Períodos de Idade – APC
Esta análise foi usada para estudar os efeitos da idade de diagnóstico e do período de detecção da prevalência da BSE em ODS-Ratio, expressado pelo número de casos por cada 10.000 animais testados. Para este estudo, o grupo de referência em cada país foi estabelecido como aquele em que a coorte-nascimento bruta era a maior[1].

A tabela 4 e a ilustração 6 remetem para os dados recolhidos para o estudo e os resultados para o modelo APC, respectivamente.

Tabela 4 -  Dados de cada país para os modelos do APC e R0 (3)




       Ilustração 6 - Modelo APC por país.

       Este estudo foi expresso em ODS-Ratio (OR) e analisado numa escala logarítmica. Como a BSE é considerada uma doença com uma prevalência baixa, então pode-se assumir que o OR é equivalente ao RR (Risco Relativo).

Devido aos ajustes feitos para a Irlanda e para a Polónia, os dados do período e da coorte de nascimento foram afectados, podendo estes não respeitar a realidade. Nos dados de ajustamento podemos verificar que o modelo se ajusta bem aos dados, especialmente nos dados referentes a França, Inglaterra, Alemanha e Itália.


  • Cálculo do Rácio de Reprodução – R0



O Rácio de Reprodução fornece uma estimativa do número esperado de animais recém-infectados resultantes de uma exposição inicial. Quando o R0 é superior a 1, é esperado que cada animal infectado contagie um ou mais animais saudáveis. Neste caso, a epidemia aumenta. Quando R0 é inferior a 1, é esperado que cada animal infectado contagie menos que um animal saudável, ou seja, a epidemia diminui.

Os dados para o estudo foram categorizados por idade (2-12 anos) e ano de nascimento (1991-2002). Estes dados foram tratados com métodos analíticos mais específicos. Calculou-se o número de casos esperados de BSE durante todo o tempo, usando a distribuição para a idade e isto foi aplicado para todos os países pertencentes ao estudo. A partir destes passos iniciais, obteve-se o número estimado de casos de BSE para todas as faixas etárias e para cada coorte desde 1991 a 2003, incluindo grupos etários que foram abatidos antes de 2001 e os que ainda vivem em 2008.

Com estas estimativas, calculou-se o número esperado de casos em cada faixa etária por ano de teste. O Rácio de Reprodução foi calculado como a razão entre o número de casos esperados estimados numa coorte de nascimento e o número de casos esperados num determinado ano de teste.

O modelo foi elaborado com base em três condições: todas as infecções ocorreram numa idade jovem (em princípio no primeiro ano de vida); todos os animais infectados e materiais de risco que foram importados são ignorados; a idade de início de distribuição clínica foi assumida como sendo a mesma para todos os países, com nenhum ajustamento adicional, devido à dificuldade de obter informação mais detalhada sobre este aspecto.

Assim, este modelo assume que há um efeito de uma coorte de nascimento, devido à infecção ocorrer numa idade tão jovem nos animais.

De acordo com o gráfico da ilustração 7, as estimativas mostraram que a epidemia foi desaparecendo de uma forma consistente (ou seja, o limite superior do intervalo de confiança de 95% tanto do ODS-Ratio como do R0 estava abaixo de 1) em todos os países, à excepção da Polónia. Esta tendência pôde ser observada a partir de 1996 no Reino Unido, de 1997 na França e Irlanda, de 1998 em Itália, de 1999 na Holanda e de 2000 na Alemanha. No caso da Polónia, embora o Rácio de Reprodução tenha sido aproximadamente 1 na maior parte do tempo, não mostrou uma clara tendência para diminuir abaixo desse valor. Seria, por isso, necessário confirmar um declínio da Epidemia de BSE na Polónia com dados e estudos posteriores. O tamanho da amostra deste país foi também muito pequeno, podendo ter influência nos dados em questão, pois o número de graus de liberdade diminui.


Ilustração 9 - Cronograma esquemático das principais medidas de controlo e tendência da epidemia de BSE por país.(3)


Esta imagem resume os resultados dos modelos e a data da implementação de medidas de controlo por país.

A primeira coorte a mostrar uma descida significativa tem como variáveis a exposição (ou seja, a pressão da infecção exercida no passado) e o nível de transmissão (ou seja, o R0), daí que este seja o primeiro factor a sofrer um declínio.


Partindo da amostra presente no artigo "BSE em Portugal nos períodos 2002-2009", fez-se um estudo, utilizando o software SPSS, que relaciona as variáveis "Ano de Nascimento", "Ano de Confirmação" e "Idade de Confirmação", podendo este ser visto no seguinte link:

















[1] Nota: A coorte de nascimento foi usada neste estudo devido à infecção se dar maioritariamente em animais com menos de 1 ano (90% dos animais são infectados antes dos 12 meses de idade).

0 comentários:

Enviar um comentário