quinta-feira, 3 de maio de 2012

Mecanismos de propagação da BSE


Embora tenha sido divulgado que a origem da BSE estava ligada à ingestão, por parte do gado bovino, de FCO, a verdade é que a origem da doença ainda não foi esclarecida (3). Formularam-se, no entanto, diversas teorias que pudessem explicar a propagação e consequente disseminação da mesma:


  • Teoria dos organofosfatos – proposta pela primeira vez por Purdey, em 1998, defende que os compostos organofostatados, nomeadamente o composto Phosmet, utilizados no combate a ectoparasitas do gado bovino, poderiam ser a causa primária da epidemia de EEB no Reino Unido (3). Segundo esta teoria, a acumulação de Phosmet no sistema nervoso central dos bovinos promovia a conversão de PrPc em PrPres. A debilidade desta teoria prende-se com o facto de o uso destes compostos ter sido anterior ao ano de nascimento dos primeiros bovinos diagnosticados com BSE e de haver uma forte incidência da doença em regiões onde estes nunca foram utilizados.

  • Teoria dos oligoelementos ou elementos-traço – proposta por Purdey, em 2000, esta teoria assenta na possibilidade de desequilíbrios minerais[1] causarem EEB. Esperava-se, então, uma maior incidência de BSE nos bovinos alimentados essencialmente com pastagem, o que não se verificou;

  • Teoria auto-imune – esta teoria defende que as EET e, portanto, a BSE, resultariam da destruição, provocada por anticorpos do próprio hospedeiro, de outras proteínas cerebrais que não a PrPc. Isto aconteceria devido a similaridades existentes entre proteínas bacterianas e cerebrais. A rejeição desta teoria prendeu-se com o facto de, apesar de as doenças cerebrais auto-imunes poderem ser induzidas experimentalmente, apresentarem uma neuropatologia muito diferente da das EET. Além disso, ratinhos sem o gene que codifica a PrPc continuavam a produzir anticorpos e apresentavam, no entanto, resistência às EET;

  • Teoria dos infra-sons – proposta em 2002 por Purdey, esta  teoria relaciona-se com a teoria dos oligoelementos, já que assenta na ideia de que as EET surgiram em zonas expostas a ondas acústicas infra-sónicas e com factores ambientais que potenciam desequilíbrios minerais no cérebro dos mamíferos. No caso particular da BSE, este desequilíbrio levaria os bovinos a serem incapazes de neutralizar os efeitos dos infra-sons, originando a doença;

  • Teoria da origem numa EET humana – proposta por Colchester em 2005, defende que a origem das EEB estaria  na reciclagem de um agente etiológico duma EET humana. Este agente encontrar-se-ia nos restos de cadáveres humanos que foram incluídos em FCO na Índia, cuja exportação levou à disseminação da doença. A teoria foi considerada plausível, mas impossível de testar (3);

  • Teoria da ração contaminada com o agente da scrapie – a scrapie é uma EET que afecta principalmente os ovinos e que, segundo esta teoria, estaria na origem da EEB, já que se encontrava em rações com FCO que incluíam cadáveres de pequenos ruminantes. Aquando do processamento das mesmas, o agente da scrapie ter-se-ia mantido activado e, ao ultrapassar a barreira da espécie, teria sofrido uma mutação que levou à infecção dos bovinos (3);
  • Teoria da mutação espontânea da PrPc – esta teoria defende que a PrPc existente maioritariamente na superfície das células nervosas sofre uma alteração espontânea na sua estrutura tridimensional que a torna patogénica, e que esta é a causa da EEB. É, actualmente, a teoria mais aceite. Esta alteração faz com que a PrPc se converta em PrPres(3) e confere-lhe resistência às protéases celulares, daí o seu nome PrPres. A PrPres é autocatalítica promovendo a formação de mais PrPres. Esta isoforma patológica, que pode ser de origem endógena (preexistência genética ou mutação) ou exógena (alimentar ou iatrogénica)(16). Como a forma patogénica da proteína (PrPres) é autocatalítica, os cadáveres infectados com a mesma, ao serem utilizados na produção de FCO, levariam à disseminação da doença (3). As evidências mais relevantes que apoiam esta hipótese são o facto de os ratos knockout serem resistentes às doenças priónicas sem possuírem o gene que codifica a PrPc e o de a sua susceptibilidade à mesma se alterar consideravelmente em ratos transgénicos (2).


A EEB seria então, à luz desta recente teoria, uma doença de ocorrência esporádica que passaria despercebida devido à inexistência de vigilância activa. Quando os animais deixavam de ser produtivos eram enviados para abate ou morriam com a doença na exploração. A propagação e amplificação teriam ocorrido da maneira descrita no parágrafo anterior. (3)





[1] Excesso de manganês e falta decobre, selénio, ferro e zinco.

0 comentários:

Enviar um comentário