quinta-feira, 3 de maio de 2012

Factores de risco - susceptibilidade específica

Ao longo dos últimos anos têm sido realizados vários estudos com vista a identificar padrões genéticos (polimorfismos da PrPc) que justifiquem a eventual susceptibilidade ou resistência à EEB.(3)

Como se verifica a existência de barreiras entre espécies distintas, espera-se um acréscimo de dificuldade em transmitir uma infecção entre diferentes espécies quando comparada à transmissão dentro da mesma espécie. Em alguns casos, a simples existência desta barreira inter-espécies poderá ser suficiente para prevenir por completo a transmissão (a BSE já foi anteriormente transmitida com sucesso a gatos, mas nunca foi detectada em cães, por exemplo).(13) Contudo, tem sido sugerido que esta “barreira” serve simplesmente para aumentar o período de incubação, e que todas as formas de EET são passíveis de ser transmitidas se o indivíduo sobreviver tempo suficiente para que a doença se manifeste. (13)

Existem evidências que sugerem que a estrutura da PrPc desempenha, mais uma vez, um papel determinante nesta barreira inter-espécies e que quanto maior a homologia entre a estrutura do PrPc (principalmente dos resíduos centrais da proteína) entre o dador e o hospedeiro maior a probabilidade do hospedeiro adquirir uma estirpe de prião específica. (3) Por exemplo, a homozigotia no codão 129 dos humanos aumenta a susceptibilidade para a CJD iatrogénica e para a CJD esporádica. Outro exemplo é que todos os casos de vCJD até agora descritos são homozigóticos (metionina/metionina) no codão 129, já que em casos de heterozigotia (metionina/valina) se induz a expressão de dois tipos diferentes de PrPc, o que resulta numa replicação mais lenta das proteínas patogénicas. (13)

No caso da scrapie  também se conhecem os genótipos relacionados com a susceptibilidade: o genótipo A136R154R171/ARR confere resistência e o V136R154Q171/VRQ confere susceptibilidade. No caso particular da vCJD apresentado anteriormente, todos os doentes possuíam genótipo 129M/M, mas, no caso da scrapie clássica, alguns animais positivos revelaram genótipos ditos “resistentes”, o que teoricamente é uma contradição. (3)

No caso dos bovinos, acreditou-se durante vários anos que o papel da genética na EEB não seria preponderante, pois nunca se tinha conseguido estabelecer uma correlação entre o aparecimento de certos polimorfismos com o código genético e as regiões reguladas na ocorrência da EEB. Contudo, num estudo efectuado em quatro diferentes raças de bovinos, começou-se a estabelecer pela primeira vez uma associação entre a genética e a susceptibilidade ao aparecimento da EEB. Concluiu-se, então, nesse estudo, que existe uma “substancial componente genética da PrPc associada à susceptibilidade à EEB nos bovinos”. (3)

Actualmente já se sabe que, por exemplo, o gado bovino é homozigótico à metionina no codão 129 (M/M) e à glutamina no codão 171 (G/G), codões estes que conferem susceptibilidade à vCJD e à scrapie, respectivamente. Os polimorfismos de inserção/delecção na região reguladora da PrPc, de 12 e 23-bp, constituem um factor de risco para a forma clássica. Estes dois polimorfismos estão presentes na região reguladora do gene PRNP, que se conserva estável em muitas raças. (3)

Num trabalho realizado com uma amostra de 192 bovinos americanos, representando 21 raças diferentes, identificaram-se 388 polimorfismos da PrPc, 43 dos quais apresentavam alelos relacionados com os alelos do 12 e 23-bp, o que demonstra alguma relação entre o aparecimento de certos polimorfismos com o código genético e as regiões reguladas na ocorrência da EEB.(3)

Todavia, este tipo de estudos apresenta fragilidades, pois recorre a animais que manifestaram a doença e a animais aparentemente sãos. “Aparentemente sãos” diz respeito ao facto de ser impossível determinar se esse estado se deve a uma componente genética que lhes confere resistência ou a outros factores exógenos, como não terem sido expostos a alimentos contaminados, não terem ingerido uma dose infecciosa ou por se encontrarem no período de incubação.(3)

Com isto podemos verificar que parece existir, de facto, uma relação entre os factores genéticos e a predisposição à génese patogénica. Apesar disso, os estudos que nos levam a estas conclusões ainda carecem de alguma comprovação adicional para realmente se poder correlacionar estes factos.

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